A imposição de tarifaço pelos Estados Unidos, aumento de 50 % sobre diversos produtos brasileiros, agrava a crise em setores-chave da economia nacional. O tarifaço interrompe embarques, cancela encomendas e provoca paralisações e cortes massivos nas atividades produtivas, com risco real de quebra de empresas. As entidades empresariais denunciam que o tarifaço tende a gerar desempregos e prejuízos sistêmicos em vários segmentos exportadores relevantes.
Impactos imediatos do tarifaço
O anúncio do tarifaço, por sua vez, provocou paralisações imediatas em cadeias produtivas como frigoríficos, móveis, pescados e calçados. Em Minas Gerais, por exemplo, siderúrgicas como Fergubel, Modulax e CSS Setelagoana suspenderam atividades e concederam férias coletivas para evitar demissões. Essas empresas exportam aproximadamente 87 % da produção aos EUA. Com o tarifaço, o custo do ferro-gusa e do aço aumentou, o que reduziu a competitividade e forçou a interrupção da produção.
Já no setor moveleiro, a Abimóvel alerta para um risco direto a cerca de 9000 empregos em toda a cadeia produtiva. Esse impacto se concentra, principalmente, nos polos de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Ceará, que destinam quase 40 % de sua produção ao mercado americano. Como resultado, as exportações desses produtos já apresentam queda significativa.
Setores mais afetados pelo tarifaço
O tarifaço afeta com mais intensidade setores como máquinas e equipamentos, calçados, indústria pesqueira, carne bovina, café, agronegócio, siderurgia, mobília e petróleo. Empresas como Embraer e WEG, que destinam cerca de 40 % de suas exportações aos EUA, já registram perdas relevantes.
No setor pesqueiro, a Abipesca alerta para um impacto severo. Atualmente, 70 % das exportações de pescados dependem do mercado americano. Como consequência, o setor corre risco de colapso e corte abrupto de empregos. Diante disso, a entidade solicita uma linha emergencial de crédito de R$ 900 milhões para evitar demissões em massa.
Além disso, a Abiec projeta uma perda de até US$ 1 bilhão nas vendas de carne bovina aos EUA. Algumas empresas já interromperam a produção voltada ao mercado americano. Segundo estimativas, as exportações de carne podem cair até 80 % entre abril e julho de 2025.
Consequências macroeconômicas do tarifaço
Um estudo da UFMG projeta que o tarifaço pode resultar em até 110 000 demissões: 40 000 no agronegócio, 31 000 no comércio e 26 000 na indústria. O PIB federal pode registrar queda de 0,16 %, equivalente a uma perda de R$ 19,2 bilhões, com São Paulo liderando o impacto em termos absolutos.
No Ceará, aproximadamente 125 000 empregos estão em risco devido ao tarifaço, afetando setores como calçados, caldeira siderúrgica e metalmecânico. A produção calçadista local, que emprega 69 000 pessoas e representa cerca de 30 % da produção nacional, enfrenta cancelamentos para os EUA.
O Rio Grande do Sul soma 85 % de seus produtos industrializados taxados, tornando-se o estado mais penalizado. Há criação de comitês estaduais de crise para mitigar os efeitos da medida.
Reações das entidades empresariais ao tarifaço
Diante do avanço do tarifaço, empresários manifestam um clima de pânico e exigem respostas rápidas do governo. Por exemplo, a Abipesca alerta para o risco iminente de colapso no setor pesqueiro; enquanto isso, a Abicalçados prevê a perda de 8 000 empregos somente na cadeia calçadista. Além disso, a indústria de máquinas e equipamentos teme ficar impossibilitada de redirecionar exportações devido às normas técnicas específicas exigidas pelos Estados Unidos.
Nesse mesmo contexto, Joseph Couri, presidente do SIMPI, sustenta que o tarifaço ameaça diretamente 100 % dos pequenos negócios com exportações voltadas ao mercado norte-americano. Segundo ele, essas empresas não têm condições de se adaptar nem migrar para outros mercados em tão curto prazo. Por consequência, ele classifica o impacto como devastador e em efeito cascata, atingindo também fornecedores, operadores logísticos e a mão de obra que sustenta essas operações.
Soluções e medidas emergenciais
Diante da gravidade do cenário, o governo federal criou um comitê emergencial para negociar com os EUA e mitigar os impactos do tarifaço. Paralelamente, as entidades empresariais pedem apoio financeiro urgente aos setores mais atingidos, especialmente os de pescados e carnes, além de uma interlocução diplomática mais efetiva com o governo norte-americano.
Além disso, a classe industrial critica a ausência de diálogo prévio antes da adoção das medidas e exige, com urgência, a construção de cenários alternativos, definição de prazos mais viáveis e liberação de linhas de crédito que possibilitem a manutenção das operações. Nesse contexto, o Itamaraty e outras autoridades brasileiras já atuam para tentar reverter as medidas e buscar ajustes que reduzam os danos ao setor produtivo nacional.
Considerações finais sobre o tarifaço
O tarifaço, por sua vez, expõe vulnerabilidades estruturais da economia brasileira, especialmente por sua forte dependência das exportações ao mercado americano. Ao impor sobretaxas lineares, os EUA desencadeiam uma crise antecipada na produção interna, gerando paralisações, cortes e um risco real de falências em cadeia. Diante desse cenário, torna-se evidente a urgência de diversificar os destinos comerciais, fortalecer os mercados internos e garantir liquidez para empresas em dificuldade.
Caso medidas emergenciais eficazes não sejam adotadas com rapidez, o tarifaço tende a agravar a desigualdade regional, penalizar micro e pequenas indústrias e comprometer empregos em segmentos estratégicos da economia nacional. Portanto, a ação coordenada entre setor produtivo e governo será determinante para enfrentar essa crise e, consequentemente, preservar a competitividade do Brasil no cenário global.
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